quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Dúvidas e incertezas.

Uma longa viagem de volta.

Segui por algum tempo em direção a lugar nenhum
e me perdi de mim ou perdi a mim.
Fui seguindo achando que não ir a lugar nenhum
não é estar sem direção, não é não ter rumo.
Fui seguindo achando que não ter onde parar
não ter por que parar, não ter onde chegar,
não era estar perdida, não era estar sem mim.
Resolvi parar.
Ainda sem rumo e sem direção,
mas sem seguir para lugar nenhum.
Resolvi parar, ficar.
Deixar para caminhar quando no horizonte
houver uma vontade boa, uma vontade minha,
uma verdade.
Resolvi parar, ficar, recomeçar, arrumar.
Tirar do caminho antigas lembranças,
varrer de deibaixo do tapete dores guardadas,
percorrer estradas que são meus caminhos e
parar de seguir a estrada que me leva para longe de mim
e não me aproxima do que ou de quem persigo.

Vanna


PERGUNTO-TE ONDE SE ACHA A MINHA VIDA

Pergunto-te onde se acha a minha vida.
Em que dia fui eu. Que hora existiu formada
de uma verdade minha bem possuída

Vão-se as minhas perguntas aos depósitos do nada.

E a quem é que pergunto? Em quem penso, iludida
por esperanças hereditárias? E de cada
pergunta minha vai nascendo a sombra imensa
que envolve a posição dos olhos de quem pensa.

Já não sei mais a diferença
de ti, de mim, da coisa perguntada,
do silêncio da coisa irrespondida.
Cecília Meireles

PANORAMA ALÉM

Não sei que tempo faz, nem se é noite ou se é dia.
Não sinto onde é que estou, nem se estou. Não sei de nada.
Nem de ódio, nem amor. Tédio? Melancolia.
-Existência parada. Existência acabada.

Nem se pode saber do que outrora existia.
A cegueira no olhar. Toda a noite calada
no ouvido. Presa a voz. Gesto vão. Boca fria.
A alma, um deserto branco: -o luar triste na geada...

Silêncio. Eternidade. Infinito. Segredo.
Onde, as almas irmãs? Onde, Deus? Que degredo!
Ninguém.... O ermo atrás do ermo: - é a paisagem daqui.

Tudo opaco... E sem luz... E sem treva... O ar absorto...
Tudo em paz... Tudo só... Tudo irreal... Tudo morto...
Por que foi que eu morri? Quando foi que eu morri?
Cecília Meireles